quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O não-sentir.


Uma coisa é certa: Pior do que a própria dor é a angústia de não sentir nada. Nada é uma palavra muito profunda, muito impossível, que nesse caso deveria soar como "nada do que deveria" ou "tão pouco que me é desprezível". Quando se percebe que o que sente não é suficiente, que seu coração deveria se libertar mais um pouco, afundar mais um pouco no desconhecido? Isso acontece quando vemos nos olhos dos outros um brilho que não há no seu, que tinha o dever de estar! Ele tinha. Quando sentimos que aquilo já não importa mais, que você já não liga... Não consegue nem ao menos sentir ódio por isso. Ódio pelo seu coração não responder como deveria, pelas suas mãos não gelarem como deveriam, pelos seus pés e pela sua barriga não agir como é de praxe, enfim, pelo seu corpo inteiro não vibrar por nenhum sentimento. Por ele apenas permanecer vazio e sem sabor. Não estou me referindo apenas ao amor - que com certeza é quase se não o principal sentimento a quem me refiro - estou falando também de sentimentos base, como: raiva, preocupação. A falta-de-raiva é notada quando acontece algo que você sabe que deveria matar alguém, bater em alguém ou falar algo, mas, você não o faz. Não por medo ou covardia. Simplesmente porque você já não vê como necessário, você não liga mais, não se preocupa mais... Mesmo sabendo que era necessário essa sua raiva pra mudar algo, mas, isso não acontece. Porque você simplesmente não consegue. No caso da falta-de-amor, é bem simples. É quando alguém consegue te amar, consegue querer você por perto e você não deseja o mesmo. É a melhor pessoa do mundo e ela está nas suas mãos e você não a quer. Não por um ou outro motivo e sim porque você só não consegue querer.  isso. É quando você vê aquele seu amigo indo pra um lado errado ou apenas se afastando de você e não faz nada. Porque você já tentou tantas vezes e não conseguiu, não é? E agora já não importa tanto, já não faz diferença. Desistir das coisas não é o melhor, nunca. Mas não consegue. Seu corpo já não sente forças pra seguir lutando e então sem ao menos esperar uma decisão sua... ele desiste. Ele para. Ele deixa de sentir, só pra que essa escolha de querer ou não, não fique mais nas suas mãos.
Junto com isso vem aquela angústia. Aquela de saber que a culpa é toda sua, de não entender o porque disso. Porque você sabe que as chances daquilo dar certo ou mudar dependiam de você. Mas, não dá pra fingir algo que não é. Só piora as coisas, só piora tudo. É horrível fechar os olhos e conseguir pensar horas do dia sobre isso, que é quando você fica se perguntando porque isso não acontece. Dói. Dói mais do que a própria dor, porque tem futuro e outras pessoas envolvidas. Acredite se quiser, mas, eu sou uma pessoa que me preocupo demais com o futuro e com outras pessoas. Sentir dor diretamente é bem mais fácil, porque você sabe o porque, sabe o por quem e sabe que isso vai passar. A dor é só sua, só quem sente é você e pode ser feito várias coisas para mudar isso. A sua dor não atrapalha a vida dos outros, não magoa os outros. Ela só atrapalha a sua e só machuca você - diretamente -. E quando o problema é contigo é bem mais fácil esconde-lo ou cura-lo mesmo que momentaneamente, porque só você sabe como fazer isso. Mexer com a vida dos outros é bem mais complicado. Sentir dor, sentir-se machucado ou magoado por outra pessoa é como estar dentro de um carro sozinho e você não tem o controle, quem dirige é o que sente, mas, só você está dentro do veículo e se algo acontecer, só irá acontecer com você e não tem culpa. Já quando o não-sentir acontece, você está em um carro onde a pessoa que será influenciada pela sua falta de sentimentos estará nele também e quem dirige é você, a culpa será toda sua se algo acontecer. Aquela angustia e culpa fica com você, não tem o que fazer. Acaba o machucando porque não pode não fazer isso, mas a culpa é o que consome tudo.
Na verdade, tudo isso é um paradoxo. Porque não-sentir envolve sentir outras coisas. Não sentir o necessário, acho que esse seria o nome. Enfim... Quando isso acabar, saberemos se foi melhor assim. Ou não.

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