quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Catavento. (Cap V - Só isso?)

Sexta-feira a noite e eu encolhida no meu sofá enquanto assistia um filme qualquer de qual nem lembrava o nome. Fazia exatos 10 dias que eu sai da minha antiga casa e que o Phillip saiu da minha vida, nesses 10 dias eu não havia cruzado nem uma só vez com ele pela rua, nem pelo café… nem por lugar nenhum, na verdade. Era estranho como tudo isso não me afetava tanto como naquela primeira noite, estranho como a dor ia diminuindo com o tempo e me fazia pensar que ela ia realmente desaparecer um dia. Ah. Uma coisa que eu devo acrescentar é que o provavel responsável pela falta de dor ou diminuição da dor foi o Peter… ele tem sido mesmo anjinho, me liga todos os dias e aparece aqui quase todos também. Eu não tinha noção de quanto ele podia ser agradável, na verdade, eu tinha noção… só não sabia ao certo.
Odeio ficar pensando sobre a minha vida e essas coisas, tudo isso só faz sentir-me mais inútil e frágil. Liguei pra Julie e pedi pra que me entretesse com algum assunto fútil que ela é tão capaz de criar.
- Ué, Pet não está aí? – Sorri maliciosamente.
- Não, Jul. Ele também não ligou hoje, não o culpo de querer fazer algo mais interessante do que ouvir como foi o meu dia em plena sexta a noite. – Continuei – Enfim, suas pertubações a parte, nos encontramos daqui a meia hora, ok?
Desliguei o telefone pra me certificar que não teria que ouvir mais nenhuma palavra dela sobre Peter, já não bastava a confusão que a minha mente fazia as vezes sobre ele? Afinal, não nos confundimos com nossos amigos, não é mesmo? Isso não é uma coisa normal de acontecer. Talvez por estar sensível e magoada. Ou por ele ser tão gentil, tão útil e… Nossa! tão lindo.
Peguei o meu vestido roxo dentro da caixa de algumas roupas que ainda não tive tempo de colocar no armário, corri para o banheiro e em alguns minutos já estava vestida. Sapatos pretos com detalhes em camurça, muito creme hidratante e muito rimel. Dentro de alguns instantes estava pronta e saindo de casa em direção a uma espécie de Pubs daqueles que a gente encontra em Londres e que nem parecia estar dentro de Nova York.
Julie ainda não estava lá, então resolvi sentar no bar para pegar uma mesa só quando ela chegar. Eu olhava para porta com alguma frequência esperando ver alguém conhecido, tentando não me sentir tão deslocada naquele lugar, já que fazia tanto tempo que eu não saia sozinha e estava tão insegura! Fechei os olhos e tentei consertar o rímel que parecia ter borrado e quando abro os olhos vejo um homem sentado bem na minha frente, tentei ajeitar a visão para identificar quem era. Era Peter! Nesse momento uma felicidade instantanea invadiu a minha barriga, os meus olhos… a mim. Não sei dizer se foi só por ser alguem conhecido ou porque não havia trocado palavras com ele as últimas 24hrs e o ver me deixou realmente feliz. Ah, não sei, só uma palavra para tudo isso: Confusão.
- Posso dizer oi ou você prefere ficar sozinha com os seus pensamentos? – Olhou diretamente em meus olhos e levantou a sombrancelha sorrindo ardentemente, tão atraente.
- Oi. – Foi só o que eu pude dizer e eu não sei porque.
Ele levantou e veio beijar a minha testa e seu peito ficou tão perto de mim que pude sentir o seu coração bater e bater. Quando sentou no banco fez o pedido de uma bebida e virou-se pra mim sorrindo.
- Estava com saudade. – Segurando minha mão direita com firmeza ele continuou – Eu realmente estava com saudade.
- Isso é tão estranho. – Eu disse.
- O que é estranho? Não posso sentir saudade de você? – Ele pausou. – Não entendo.
- Não, não é isso. – Eu voltei a olhar pra frente. – Estranho é como estamos ligados esses ultimos dias. – Continuei. – Só tenho que agradecer a você.
- Se você disser a palavra agradecer mais uma vez, eu juro que não faço mais nada. – Eu sorri junto com ele enquanto ele dizia isso com um tom de brincadeira e ele continuou – Nao é pra agradecer, eu faço isso porque gosto de você.
Eu realmente esperei um “Eu gosto de você porque você é minha amiga” mas não ouvi, e eu realmente não sei se era mesmo isso que eu queria ouvir. Ficar fitando aqueles olhos azuis penetrantes só fez me deixar mais confusa, mais cansada de pensar em o que eu estou sentindo. DROGA, EU NÃO CONSIGO SABER O QUE SINTO. Eu pensava isso enquanto analisava cada canto do seu rosto, eu estava tão perto que podia ver cada minúsculo resto de sua barba mal-feita e isso me constrangia, essa proximidade me fazia corar. Acredito que seja só uma gratidão imensa por tudo isso… ou não. É, é só isso.
Esse foi o momento em que Julie enconstou seus dedos nas minhas costas e fez com que eu me enrigecesse em um estalo e então virei-me pra ela e sorri com cara de quem estava fazendo algo errado. E eu não estava. Não é mesmo? Só estava olhando amigavelmente e sem motivos para um antigo amigo, só isso. Só isso?

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