quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dias não-escritos.

Você está sentado em algum lugar que não é a sua casa, em uma noite que não é a sua noite, com pessoas que não são você, que não sentem o que roda na sua barriga. Quando você de repente percebe que sua vida não está caminhando do jeito certo, que você tem errado, e as coisas já não são mais como você pensava que fosse. Seus amigos estão um pouco mais longe, os de perto agora são outros. A vida que você estava vendo não era a sua, ou melhor, não era o que ela é de verdade, era apenas uma imagem mais bonita dela que você olhava superficialmente e acreditava. Sua vida na verdade tem passado incolor, insípida e inodora. Não há verde nela. Os dias passam, você ri, você brinca, você chora, você vive, porém, quando está sozinho que é o momento que você é só você e mais ninguém, você vê. Você vê que sente falta de pessoas, que tem trilhões de coisas que sua mãe não sabe sobre você, que ninguém sabe sobre você, que algumas coisas que você fez.. não fazem muito sentido.
Esse é o momento que você analisa cada instante que passou dos seus últimos insípidos dias, procurando a solução, procurando em que diabos esconderam-se as cores das suas tardes. 


Tudo bem, nem sempre tudo será tão bom, tão verde, tão agitado. Tudo bem. E você vai continuar vivendo, continuar olhando para as estrelas perguntando quando tudo vai se tornar mágico, você vai continuar sorrindo para a sua amiga e esperar um abraço. Você vai continuar falando com aquele/a garoto/a esperando que ele olhe pra você e diga que vai estar com você. Você vai continuar explodindo com a sua mãe sem motivo ou pode ser que isso não aconteça. Pode ser que tudo não se transforme de uma hora pra outra, pode ser que para que isso aconteça você tenha que respirar fundo seguidas vezes e parar de olhar paras estrelas e focar somente na lua, segurando pra não deixar que transborde dos seus olhos o que está enchendo o seu coração, a sua barriga ou até os seus pés... Suas lágrimas podem escorrer nas suas mãos que jogam tudo no chão durante uma crise, ou nos seus braços que se apertam sobre o seu peito, elas podem escorrer de diversos jeitos, com diversos jeitos, podem o faze-lo mesmo que seus olhos permaneçam secos. Por um tempo pode ser que tudo seja assim, mas, um  dia, você verá que sorrir quando não quer pode valer a pena, muitas coisas podem valer. Você verá as coisas mudarem, as cores voltarem... só precisa acreditar.


"Quando tá escuro e ninguém te ouve quando chega a noite e você pode chorar. Há uma luz no túnel dos desesperados. Há um cais de porto pra quem precisa chegar. Eu tô na lanterna dos afogados, eu tô te esperando, vê se não vai demorar.
Uma noite longa pra uma vida curta, mas já não me importa basta poder te ajudar e são tantas marcas que já fazem parte do que eu sou agora,mas ainda sei me virar."

sábado, 23 de outubro de 2010

Catavento. (Cap IV - De volta a vida real.)

Sentados no tapete da sala nós comemos em silêncio, estava uma delicia! E pelo visto não era só eu que estava com fome, o Pet parece também estar, devorando tudo de um jeito… que deixa seus maxilares maiores… mais bonitos.
- Vai ficar aí me observando comer, ou vai me ajudar a levar isso pra cozinha, maluca? – Ele diz já de pé e com uma das mãos esticadas pra me ajudar a levantar e a outra com os nossos pratos sujos. – Ou! Tá me ouvindo? – Ele diz levantando as sobrancelhas de um modo que só ele sabe fazer, que desde que nos conhecemos eu batizei essa cara dele de: cara do pet. Original demais!
- Hã? Claro né! – Digo isso já chegando na cozinha e começando a lavar os pratos.
Enquanto lavo os pratos, o Pet fica sentado no balcão olhando pra mim com aqueles olhos azuis de vigia, não sei o que pensar, nunca corei com coisas que o Peter faz tantas vezes em um único dia. É estranho isso! Será que ele pensa em ir embora? Não que eu queira que ele fique, mas… é só uma duvida.
- Acho que vou indo né? Nos vemos amanhã, vizinha? – Ele diz isso já envolvendo os seus braços envolta de mim e soltando todos os seus sorrisos, vejo que ele deixa suas mãos descansarem em minha cintura. Será que ele esqueceu elas aí? Hm.
- Já vai então? – Em poucos passos estamos na sala, eu abro a porta e ele se vira pra sair, e eu permaneço com a porta aberta talvez esperando ele sair do meu campo de visão.
- Amb? – Ele se vira e continua – Só queria que você ficasse sabendo, que eu estou aqui. Não importa pra que, eu estou mesmo aqui. Pode me ligar qualquer hora dessas, se quiser compania ou sei lá – Ele sorri. – Consertar alguma coisa.
- Você sempre esteve. – Eu respondo o enchendo de olhares agradecidos.
- Não, agora eu estou mesmo aqui. Prontinho. – Ele vem na minha direção. – Pra qualquer coisa. – Depois de dizer isso ele me dá um beijo na bochecha bem rapido e desce as escadas chacoalhando os cabelos.
Acordei atrasada de novo, são 7:10 e eu preciso estar na Bells às 8hrs. Merda! Merda! Merda! Nunca me arrumei tão rápido, desço as escadas passando as mãos pelos cabelos lavados, tentando coloca-los no lugar certo. Ando pelas ruas apressada, sem ao menos observar a travessia das ruas.
- Amb! Ambeeeeer! - Ouço gritarem o meu nome, mas, não sei de onde vem esse som, já estou em frente a porta dourada da Bells e passo os olhos por todo meu campo de visão, pra ver se acho alguém. Até que vejo Mia. Mia era uma estagiária da Bells, que sempre me dava a impressão que estava me seguindo. O sonho da vida dela era ser jornalista de lá, como eu. Ela é uma menina desajeitada, sempre cheia de pastas nas mãos e sapatilhas nos pés, não posso dizer que se veste mal, mas... para ser uma jornalista da Bells, tem que ser tudo e mais um pouco. Só lhe desejo boa sorte.
- Trouxe fotos incríveis da Charllote Ryo, você vai adorar! Quer ver agora, ou... - Ela para, talvez pensando se eu estava mesmo a ouvindo, já que não parei e continuei entrando no prédio. - Tudo bem, Amber? Quer dizer... você tá meio... - Ela continua. - Tudo bem?
- Ah, depois conversamos melhor, vai pra sua mesa, que depois a gente se fala, tudo bem? - Tentei não ser grossa, mas, seus olhos cairam e eu me senti um pouco culpada por isso. Gritos interrompem meus pensamentos culpados, e eu me encolho na cadeira. Gritos a essa hora da manhã. Parece que alguém está de mal humor hoje. Bem, percebo que estou de volta a rotina de sempre... de volta a vida.