sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Desescondendo antigos amores


Por esses dias fui desesconder "antigos algos" que eu havia escondido. Estava a tentar arrumar as velhas coisas, jogar fora o que não me trazia nenhuma lembrança. Aceitando até o que me trazia más lembranças, seja boa ou ruim... de memórias eu nunca me farto. Descobri antigos desejos, alguns irreveláveis. Irreveláveis, é! Esses são os melhores. Descobri minhas pequenas mãos, minhas pequenas lágrimas apaixonadas e meu primeiro complexo. Me pergunto quando foi que eu os esqueci, quando foi que eu os deixei de lado e fui me dedicar a algum outro canto do meu quartinho. O outro canto com certeza me prendeu lá, a minha caixinha que antes era tão acessada, agora precisa ser descoberta. Quando entrei naquele novo estado velho do meu quartinho, só pude lembrar das noites que passei com Clarice. Clarice e o seu quartinho em "A paixão segundo G.H". Eu estava exatamente como ela, redescobrindo algo novo dentro das minhas antigas coisas.
De tanto que Clarice me perseguia a mente direita, me lembrei de Cecília ao meu lado esquerdo. Ao redescobrir minhas antigas paixões, não podia me esquecer de Cecília! Cecília foi minha paixão durante minha média-infância ou sei lá de que eu posso chamar aquela fase, ela me dizia exatamente como eu me sentia. Minha primeira ação foi telefona-la pra ver se ela ainda se lembrava de mim e se ainda me conhecia como antes e que surpresa!! Cecília ainda me ama e ainda me conhece como me conhecia, vejo que não pode ser possível que eu tenha mudado tanto.
Por fim, o que descobri é que ainda sou a mesma e Cecília também. E é por ela ser ela mesma e eu ser eu mesma que vou colocar dois dos meus amores de Cecília aqui pra quem um dia for ler, talvez esse quem também descubra seu amor de Cecília.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
(Minha Ceci)


Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
(Cecília Meireles)