terça-feira, 28 de setembro de 2010

Catavento. (Cap III -

Abro meus olhos e tudo está embaçado, espere aí, eu dormi mesmo, por quanto tempo eu dormi? Ai, meu Deus. Vejo que eu já não estou mais no balcão da cozinha e sim no sofá da minha nova casa, espere espere, o que o meu sofá está fazendo na minha nova casa e não na velha casa? Tá, agora tudo está girando, será que eu fui dopada? ou estou sonhando? tá tá, tá muito confuso.
Sento me no meu-sofá-que-está-na-casa-nova e começo a olhar por todos os lados, contorcendo a cabeça pra ver se consigo achar uma explicação pra isso, até antes de eu dormir a casa estava vazia e agora tudo meu está aqui. Ouço a voz do Pet na sala e então vou até lá, ele já não está mais com a blusa cinza que estava antes, agora ele está sem ela e a carrega em seus ombros, ainda está com a mesma calça, então eu não posso ter dormido mais que algumas horas. Ele diz algo que eu não consigo ouvir para um senhor que está na porta do apartamento, um senhor com suor descendo no rosto e uma cara de quem não é simpático.
- OK, brigadão! – Ele diz fechando a porta e virando se pra mim. – Amb? não sabia que tinha acordado. – Ele deixa um sorriso imenso invadir o seu rosto suado, enquanto limpa o suor com a palma das mãos.
- É, mas… o quê? – Eu ainda estou sonolenta. – O que aconteceu? Como essas coisas vieram pra cá? – Meus olhos invadem os dele procurando alguma explicação. Será que ele trouxe tudo pra cá em seus próprios braços musculosos? Ah, improvável… ele tem musculos, mas, não tantos.
- Ah, isso? – Despara em rir. – Mágica. – Continua a rir, e me faz soltar um sorriso, só porque ele está sorrindo com uma cara cínica, como se esperasse que eu realmente acredite no que ele disse.
- Porque será que eu não desconfiei? – Falo tentando soar irônica, mas, eu sempre tenho a impressão que eu não sei ser irônica. – Tá, agora diz o que você fez!
- Então… – Ele diz enquanto vem na minha direção – Eu achei que você ia se estressar demais tentando colocar tudo no lugar, daí eu resolvi fazer isso pra você. - Agora ele usa os dedos para tirar um fio de cabelo meu que está grudado em minha testa, e deixa os seus dedos repousando nas minhas bochechas que agora estão corando.
- Obrigado. – Digo enquanto sento no tapete da sala, que está esticado impecávelmente. Que cuidadoso! – Você sabe que não precisava, eu poderia ter feito sozinha.
- É claro. – Ele diz isso cheio de sarcasmo, será que ele acha que eu sou tão inútil que não posso nem fazer uma mudança sozinha? pff! – Hmm, a Claire ligou e a Julie também, eu disse que estava tudo bem. – Ele lança seus olhos azuis para mim esperando que eu confirme que está tudo bem, eu balanço a cabeça confirmando, é, parece que tudo estava ficando melhor mesmo. – Achei estranho porque elas disseram que desde… o acontecido você não telefonou pra elas.
- É, eu tava tentando esclarecer as coisas na minha cabeça antes de esclarecer as coisas pra alguem. – Eu digo isso catando uma almofada que está perto de mim, e a abraço. – O que vamos fazer agora? acho que estou com fome.
- Que tal, comida indiana? – Ele solta um sorriso de eu-imaginei-que-você-estivesse-com-fome, é, ele tem esse sorriso, que estranho! – Vai chegar daqui a pouco.
- Comida indiana? – Começo a imaginar a comida, e minha boca se enche de água. – Claro! Claro!
- Posso tomar banho aqui? – Ele fala isso escondendo os lábios. – Se não se importa, é porque lá em casa está sem água quente e imagino que você não queira que eu morra de frio, nem nada. – E lá está ele sorrindo de novo.
- Não, tá tudo bem, pode ir. Eu realmente não quero o meu agente de mudanças morto por aí, né. Ao menos que eu tenha matado ele, aí tudo bem. – Falo séria, mas ele não responde. Apenas anda em direção ao banheiro, com uma troucha de roupas em mãos.
Começo a procurar meu celular freneticamente, não consigo me lembrar onde botei. Onde? onde? Parece não estar em lugar nenhum, eu preciso dele, preciso ligar pra Julie e logo depois pra Claire, tá, e pra minha mãe. Vou indo em direção a porta do banheiro pra ver se o Pet me responde.
- Pet, sabe onde eu coloquei o meu celular? – Eu falo esperando para que seja mais alto que a ducha do chuveiro. – PETER! PETER! Cadê a merda do meu celular? – Ele não responde, mas, ouço o chuveiro se calar. Ele abre a porta e vejo que ainda está de toalha, e molhado, mas, ele só abre um pouco da porta.
- O quê? – Ele diz com uma cara de confuso.
- O meu celular. – Eu digo sentindo o meu sangue ir para as minhas bochechas que estão corando, não sei porquê.
- Hm, já viu se tá no balcão da cozinha? – Ele sorri tentando ser simpático com a pessoa que atrapalhou o banho dele, e bate a porta.
É, está no balcão da cozinha, que esperta, não? Disco o número de Julie e espero na linha por um tempo, tenho a impressão que tocou 100 mil vezes e nada, aí desligo. Agora o número de Clarie.
- Am! Am! Como você está? – Ela diz, antes mesmo que eu possa dizer alô, ouço barulhos estranhos que é provavel que venham dos filhos dela. Ah, Clarie é a única das minhas amigas que é casada, daí sempre temos a impressão que ela não tem tempo para nós.
- Só liguei pra dizer que estou viva, amiga. – Respondo. – É que eu to esperando comida aqui e o Pet está no banho, daí não quero correr o risco de não ouvir e eu…
- O Pet? – Ela me interrompe, muito mal educadamente. – Ele está com você? – Ela sorri maldosa.
- Não. – Respondo rápido. – Quer dizer, está aqui, mas, não está comigo, entendeu? Ele tá só me ajudando com a casa nova e com tudo. Sabe como é?
- Não sei não. – Ela ri ainda. – Tudo bem, tudo bem. Vou desligar, não quero incomodar. – E desliga.
Ah, o que ela queria dizer com todas aquelas risadas? Argh! sempre ela mesmo. Sempre.
- A comida chegou. – O Pet diz invadindo a cozinha, com os cabelos negros muito molhados e ainda sem camisa, agora com uma outra calça. Seus musculos estão parecendo maiores, dever ser porque ainda há água neles. Nossa!

sábado, 18 de setembro de 2010

Catavento. (Cap II - Vida nova, casa nova.)

Estou dentro da banheira tentando processar as ideias, tentando pensar, já faz mais de uma hora e nada. Resolvo então sair de casa e ir procurar um lugar pra morar, não quero ter que olhar para as coisas que antes eu dividira com Phillip e que agora não serão mais nossas, apenas minhas, já que ele disse que tudo o que queria levar ele já havia pego (isto é, duas malas e a jaqueta enrolada em seus braços, e com certeza sua carteira estufando de notas). Em alguns minutos eu já estava pronta, parada no hall procurando minhas chaves quando o telefone toca.
- Hm, Amber? – Ouço a voz do Peter do outro lado da linha, provavelmente ligou pra ver se eu ainda estou viva.
 – Oi, Peter, fala. – Percebo que ele suspira como quem está aliviado por eu não ter cortado os meus pulsos ainda, de fato ele me conhece bem, pois, eu pensei nisso pela manhã enquanto ainda estava na cama, mas, era certo que eu não ia realmente fazê-lo.
 – Então, imagino que você esteja precisando, você sabe, de um lugar pra morar.
 – Sim sim, isso mesmo, o que é? sabe de algum lugar?
 – Sei sim, Amber, aqui na minha rua tem um apartamento livre, acho que por enquanto seria bom pra você.
- Ah, claro, então irei passar aí para ver como que fica isso hoje mesmo, quero dizer, agora mesmo, estava mesmo saindo de casa.
– Tudo bem, já tomou café? que tal daqui a meia hora na Starbucks, Amb?
 – Ok, até lá.
Assim que saio do elevador, sinto que os funcionários da recepção continuam me olhando, talvez pela cena que eu fiz ontem, que até agora eu não consigo acreditar que eu fiz mesmo aquilo, é, aquilo de correr que nem uma louca gritando, tento afastar os pensamentos constrangedores do fim da tarde de ontem. Na porta do hotel, observo a rua, vejo que tudo está como era antes, sabe? (antes é quando o Phillip ainda me amava), vejo que o fato dele ter me abandonado, não fez com que nada mudasse lá fora, acho que foi só aqui dentro, só aqui dentro que sinto tudo fora de ordem. Começo a andar em direção a Starbucks, que fica há umas duas quadras dali e vou observando as pessoas na rua, como se fizessem parte da minha família. Falando em família, penso em fazer uma visita a eles esses dias. Uma mulher com um bebê… um cara com pressa… outra mulher com um bebê… um casal… mais gente com pressa… um casal… um casal. Nossa, quantos casais! argh. Entro na cafeteria e vejo o Peter lá sentado no balcão, olhando para mim enquanto eu invado a porta, com seus olhos azuis quase me filmando e então eu sento ao seu lado e sorrio.
- Como você está, Amb? estava preocupado em como você ia ficar depois de tudo. – Ele diz tão rápido que parece vomitar palavras que já estavam martelando em sua mente há séculos.
– Tudo bem, eu acho. – eu tento sorrir, mas, eu sei que ele não acredita, afinal, estou falando do meu melhor amigo, e ele me conhece mais do que eu mesma. – Vai ficar tudo bem.
– Ah, o apartamento, já conversei com o proprietário, acho que você pode se mudar hoje mesmo, ele deixou a chave comigo.
 – Ah, que noticia ótima. – Sorrio, de verdade dessa vez. – Vamos indo, eu quero ir lá ver. – Ele acente com a cabeça e levanta.
Carregando o meu Caramel Macchiato de sempre, que hoje estava estourando de tão quente, atravesso a porta da Starbucks com Peter vindo logo atrás de mim com o seu Brewed Coffee e sua jaqueta em suas mãos, hoje ele parecia estar mais arrumado do que o normal, uma blusa cinza e calças surradas que o deixam bem… interessante. Nós caminhamos aquelas quadras em silêncio, acredito que ele esteja com algum sentimento de pena, ou alguma coisa assim, algo tipo: “Tadinha, ela foi abandonada pelo amor da vida dela”. Ele abre a porta do prédio branco amarelado, e olha pra trás sorrindo, como se tivesse uma surpresa lá dentro, seus olhos azuis sorriam também e nesse momento eles invadiram os meus. Fui seguindo o Pete uns dois lances de escada, meus pés batiam fortes como quem tenta ter passos firmes, mas, era em vão. Por um momento pensei que fosse cair então coloquei minha mão dentro do bolso de trás da calça do Peter para me equilibrar.
- Ou, não precisa abusar de mim né? – Ele olha para trás e balança a cabeça de um jeito que faz seus cabelos negros, que ele nunca lembra de cortar, chacoalharem e sorri despreocupado.
- Ok, vou me conter, da próxima vez eu caio da escada. – Eu respondo, soltando uma risada. Então Peter vai abrindo a porta do que será a minha nova casa.
- Voilà – Ele diz fazendo biquinho e piscando. – Bem-vinda, vizinha. – Continua – Prometo trazer uma torta ou qualquer coisa dessas que os vizinhos trazem de boas vindas.
- Ah, não precisa, tenho medo dos seus dotes culinários, mon cher. – Solto uma gargalhada – mas, obrigada por isso, mesmo. Nem precisei procurar uma casa.
- Não agradeça, vamos ver o resto do ap. – Ele diz se aproximando de mim, me pegando pelo braço e me arrastando por todos os cômodos. – Vem, vem.
- Que animação, Pet! – Fico mais animada também e o sigo.
Peter passa a mão pela minha cintura e me carrega do banheiro até a cozinha, com suas mãos apertando com força o meu quadril. – Essa é a melhor parte! – Diz me colocando em cima do balcão que divide a cozinha e onde será minha sala de jantar. – Acho que o cara que morava aqui era cheff, por isso aplicou mais na cozinha.
- Eu vou adorar morar aqui, já estou me sentindo melhor. – Falo isso deitando no balcão vazio e respirando profundamente o ar da minha nova casa. Peter senta no balcão também e coloca suas mãos grandes em meu rosto. Espera, o que é isso? O QUE É ISSO? Eu levanto em um estalo e me ajeito pra ficar sentada ao seu lado. Sinto o meu rosto corar, minhas bochechas ardem.
- Calma, Amb. O que é? está com medo que eu faça algo com você? – Ele abaixa a cabeça – Só estava tentando ver você sorrindo, hoje pela manhã você parecia tão triste. Por causa daquele, aquele… – Ele levanta o rosto e se vira pra mim, deixando suas sobrancelhas ficarem franzidas. – Canalha que você ia se casar.
- Ia – Eu repito. – Ia – Recosto meu rosto nas minhas mãos, e olho ao redor do cômodo. – Minha casa. – Suspiro.
Quando fui ver, seus braços já estavam envoltos em mim, e a minha cabeça recostava em seu peito e foi quando eu apaguei.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Catavento. (Cap I - Corrida do adeus.)

- Volta aqui, Phillip! – eu disse, arfando de ódio, o sangue em minhas veias parece correr de forma que eu posso sentir ele passeando pelo meu corpo – Volta aqui, merda! – Eu digo, já desistindo de correr e me sentando em algo que parece ser um puff, mas, que eu nem me preocupei em ver o que era antes de me sentar.
Vejo que estão todos me olhando, de certo pensando em como eu era maluca ou o que me leva a correr (e gritar) por todo o térreo do Doubletree Metropolitan, desde o elevador até a porta do Hotel. Afundo o meu rosto em minhas mãos e finalmente estou pensando com calma no que acaba de acontecer, “Não temos mais nada para conversar, eu estou indo” “Pare, Amber! você vai superar!” “Não me siga, não, não temos mais nada pra falar”. As palavras parecem ecoar na minha mente, dançando de forma embaralhada e embaçada em minha cabeça, que está só dificultando que tudo pareça verdade. Tudo bem, ele foi embora, tudo bem pra mim, tudo bem. Ele está indo morar em algum lugar da cidade que não é a nossa cobertura na Lexington Avenue, talvez com outra pessoa, ele não disse. Na verdade, ele não disse nada além de “vou embora, amber” e algumas variações disso, não disse porquê ou por quem. Talvez me ache gorda demais para alguem tão bem sucedido, talvez eu tenha que arrumar um emprego melhor agora, não, espere, aonde eu vou morar? meu dinheiro é de longe suficiente pra pagar aqui. É isso mesmo, merda, aonde eu vou morar? Talvez durma no metrô durante um tempo e depois arrume um loft no Brooklyn pra morar, ah, qual é, a quem estou tentando enganar, definitivamente eu não vou dormir no metrô.
- Senhora, acho que o senhor que passou correndo aqui deixou um recado para a senhora lá na recepção. – Um homem de aparência jovem, diz interrompendo meus pensamentos desesperados.
– ah, tudo bem, obrigada. – Me levanto e vou cambaleando no salto que detona os meus pés a cada passo, parece que acabo de sair de uma caverna, sinto como se tudo doesse.
- Oi – digo para a moça que parece ocupada atrás do balcão. – Meu noivo, digo, ex noivo, hmm, deixou um recado para mim aqui, é… eu acho, tem como? é… – As palavras saem confusas depois que pronuncio a palavra ex noivo, tento me acalmar, meu coração ainda está agitado.
 – Amber? – ela diz, direcionando os seus olhos negros para me analisar.
 – Sim, eu mesma. – Sorrio, e ela entrega um papel rabiscado no que parece ser a letra de Phillip escrita com rapidez.
Amber, me desculpe sinto muito, nós conversaremos sobre tudo o que for necessário dentro de alguns dias, depois que eu voltar da Flórida. Lembre-se o que eu disse, não há nada de errado com você, eu só… irei embora agora porque não
P.s: Você pode ficar no hotel essa noite, mas, sinto que terá que procurar outro lugar em alguns dias. 
Phillip.
Poucas lágrimas escorrem dos meus olhos, enquanto dobro o papel e enfio no bolso do jeans e sigo em direção ao elevador, os números sobem no painel 11,12,13… e a única frase que eu consigo pensar claramente é que tudo irá mudar a partir de agora.
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