sábado, 18 de setembro de 2010

Catavento. (Cap II - Vida nova, casa nova.)

Estou dentro da banheira tentando processar as ideias, tentando pensar, já faz mais de uma hora e nada. Resolvo então sair de casa e ir procurar um lugar pra morar, não quero ter que olhar para as coisas que antes eu dividira com Phillip e que agora não serão mais nossas, apenas minhas, já que ele disse que tudo o que queria levar ele já havia pego (isto é, duas malas e a jaqueta enrolada em seus braços, e com certeza sua carteira estufando de notas). Em alguns minutos eu já estava pronta, parada no hall procurando minhas chaves quando o telefone toca.
- Hm, Amber? – Ouço a voz do Peter do outro lado da linha, provavelmente ligou pra ver se eu ainda estou viva.
 – Oi, Peter, fala. – Percebo que ele suspira como quem está aliviado por eu não ter cortado os meus pulsos ainda, de fato ele me conhece bem, pois, eu pensei nisso pela manhã enquanto ainda estava na cama, mas, era certo que eu não ia realmente fazê-lo.
 – Então, imagino que você esteja precisando, você sabe, de um lugar pra morar.
 – Sim sim, isso mesmo, o que é? sabe de algum lugar?
 – Sei sim, Amber, aqui na minha rua tem um apartamento livre, acho que por enquanto seria bom pra você.
- Ah, claro, então irei passar aí para ver como que fica isso hoje mesmo, quero dizer, agora mesmo, estava mesmo saindo de casa.
– Tudo bem, já tomou café? que tal daqui a meia hora na Starbucks, Amb?
 – Ok, até lá.
Assim que saio do elevador, sinto que os funcionários da recepção continuam me olhando, talvez pela cena que eu fiz ontem, que até agora eu não consigo acreditar que eu fiz mesmo aquilo, é, aquilo de correr que nem uma louca gritando, tento afastar os pensamentos constrangedores do fim da tarde de ontem. Na porta do hotel, observo a rua, vejo que tudo está como era antes, sabe? (antes é quando o Phillip ainda me amava), vejo que o fato dele ter me abandonado, não fez com que nada mudasse lá fora, acho que foi só aqui dentro, só aqui dentro que sinto tudo fora de ordem. Começo a andar em direção a Starbucks, que fica há umas duas quadras dali e vou observando as pessoas na rua, como se fizessem parte da minha família. Falando em família, penso em fazer uma visita a eles esses dias. Uma mulher com um bebê… um cara com pressa… outra mulher com um bebê… um casal… mais gente com pressa… um casal… um casal. Nossa, quantos casais! argh. Entro na cafeteria e vejo o Peter lá sentado no balcão, olhando para mim enquanto eu invado a porta, com seus olhos azuis quase me filmando e então eu sento ao seu lado e sorrio.
- Como você está, Amb? estava preocupado em como você ia ficar depois de tudo. – Ele diz tão rápido que parece vomitar palavras que já estavam martelando em sua mente há séculos.
– Tudo bem, eu acho. – eu tento sorrir, mas, eu sei que ele não acredita, afinal, estou falando do meu melhor amigo, e ele me conhece mais do que eu mesma. – Vai ficar tudo bem.
– Ah, o apartamento, já conversei com o proprietário, acho que você pode se mudar hoje mesmo, ele deixou a chave comigo.
 – Ah, que noticia ótima. – Sorrio, de verdade dessa vez. – Vamos indo, eu quero ir lá ver. – Ele acente com a cabeça e levanta.
Carregando o meu Caramel Macchiato de sempre, que hoje estava estourando de tão quente, atravesso a porta da Starbucks com Peter vindo logo atrás de mim com o seu Brewed Coffee e sua jaqueta em suas mãos, hoje ele parecia estar mais arrumado do que o normal, uma blusa cinza e calças surradas que o deixam bem… interessante. Nós caminhamos aquelas quadras em silêncio, acredito que ele esteja com algum sentimento de pena, ou alguma coisa assim, algo tipo: “Tadinha, ela foi abandonada pelo amor da vida dela”. Ele abre a porta do prédio branco amarelado, e olha pra trás sorrindo, como se tivesse uma surpresa lá dentro, seus olhos azuis sorriam também e nesse momento eles invadiram os meus. Fui seguindo o Pete uns dois lances de escada, meus pés batiam fortes como quem tenta ter passos firmes, mas, era em vão. Por um momento pensei que fosse cair então coloquei minha mão dentro do bolso de trás da calça do Peter para me equilibrar.
- Ou, não precisa abusar de mim né? – Ele olha para trás e balança a cabeça de um jeito que faz seus cabelos negros, que ele nunca lembra de cortar, chacoalharem e sorri despreocupado.
- Ok, vou me conter, da próxima vez eu caio da escada. – Eu respondo, soltando uma risada. Então Peter vai abrindo a porta do que será a minha nova casa.
- Voilà – Ele diz fazendo biquinho e piscando. – Bem-vinda, vizinha. – Continua – Prometo trazer uma torta ou qualquer coisa dessas que os vizinhos trazem de boas vindas.
- Ah, não precisa, tenho medo dos seus dotes culinários, mon cher. – Solto uma gargalhada – mas, obrigada por isso, mesmo. Nem precisei procurar uma casa.
- Não agradeça, vamos ver o resto do ap. – Ele diz se aproximando de mim, me pegando pelo braço e me arrastando por todos os cômodos. – Vem, vem.
- Que animação, Pet! – Fico mais animada também e o sigo.
Peter passa a mão pela minha cintura e me carrega do banheiro até a cozinha, com suas mãos apertando com força o meu quadril. – Essa é a melhor parte! – Diz me colocando em cima do balcão que divide a cozinha e onde será minha sala de jantar. – Acho que o cara que morava aqui era cheff, por isso aplicou mais na cozinha.
- Eu vou adorar morar aqui, já estou me sentindo melhor. – Falo isso deitando no balcão vazio e respirando profundamente o ar da minha nova casa. Peter senta no balcão também e coloca suas mãos grandes em meu rosto. Espera, o que é isso? O QUE É ISSO? Eu levanto em um estalo e me ajeito pra ficar sentada ao seu lado. Sinto o meu rosto corar, minhas bochechas ardem.
- Calma, Amb. O que é? está com medo que eu faça algo com você? – Ele abaixa a cabeça – Só estava tentando ver você sorrindo, hoje pela manhã você parecia tão triste. Por causa daquele, aquele… – Ele levanta o rosto e se vira pra mim, deixando suas sobrancelhas ficarem franzidas. – Canalha que você ia se casar.
- Ia – Eu repito. – Ia – Recosto meu rosto nas minhas mãos, e olho ao redor do cômodo. – Minha casa. – Suspiro.
Quando fui ver, seus braços já estavam envoltos em mim, e a minha cabeça recostava em seu peito e foi quando eu apaguei.

Um comentário:

  1. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH ! quero um livro seu, agora! JÁ , nesse instante !
    eu quero continuação, buáááááá :((((
    VIVA AO PET õ/

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