segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Relato de parto 26/12/2021 - Cecília

 Rio, 19 de janeiro de 2022


O relato de parto da Cecília, a história de quando conheci uma parte tão doce de mim


Cecília estava pélvica (sentada) desde as 32 semanas de gestação e com uma posição atípica da cabeça. Juntas começamos uma empreitada para ajudá-la a se posicionar de cabeça para baixo. Exercícios, acupuntura e duas tentativas de versão cefálica externa (uma manobra que o médico faz para modificar a posição do bebê) depois: ela seguia na mesmíssima posição. Na 36ª e 37ª semana fui começar a aceitar que talvez as coisas não seriam como eu havia planejado e estudado, chorei, conversei com a equipe e doula, marido junto nesse processo de aceitação do que viria. Somente 3% dos bebês seguem pélvicos até o dia do nascimento, não é?  Será que seríamos os sorteados? Essa incerteza foi a parte mais difícil de lidar dentro do processo, já não sentia mais medo da dor do parto, o medo era de não viver essa experiência como eu queria. 


Decidimos que atendendo aos requisitos necessários, seguiríamos para o parto vaginal pélvico. No entanto, a única profissional (uma das 5 do Rio) que assiste a esse tipo de parto na minha equipe viajaria vários dias entre nossa 38ª - 41ª semana. Mais uma vez, um convite pra entregar nas mãos de Deus. 

Orei, pedi a Ele que fizesse conforme sua vontade e lembrando que gostaria muito que fosse do meu jeito. Entreguei.

Consegui passar as últimas semanas aproveitando a barriga, fomos à praia mais de uma vez, a restaurantes e consegui me livrar do sentimento estranho que eu tinha toda vez que encostava na barriga e sentia a cabeça dela perto da minha costela. 


Depois de um dia de cinema e coração tranquilo, a bolsa rompeu as 22h do dia 25/12 (nascimento de Jesus 💛) com 40 semanas e 3 dias. Estava no sofá com a minha mãe terminando de assistir um documentário na Netflix e ploc! Não tinha dúvidas de que era a bolsa, já que tinha sido uma quantidade bem grande de líquido. Euforia, alegria, risada e muitos abraços e beijinhos. O medo foi embora, só sabia que iria conhecer minha filha nas próximas horas. Deus sempre presente.

As 23h as contrações não ritmadas começaram e a tarefa de dormir foi se tornando mais improvável, seguimos em contato com a equipe e a doula, ainda sem saber como seria nosso parto.

As 7h a doula chegou em nossa casa, as contrações pareciam começar a ritmar e depois espaçavam novamente. Tomei duas doses de shake de rícino para ajudar as contrações (a primeira não parou no estômago, estava muito enjoada todo o dia). Seguimos assim até por volta das 14h da tarde quando nos arrumamos pra maternidade pois precisávamos iniciar o antibiótico com 18h de bolsa rompida.

Durante todo o processo, eu seguia meio calada e introspectiva, tentando me conectar e pensando que cada contração já doia tanto, será que eu aguentaria ir até o final? Desviava esse pensamento com os olhos fechados aguardando a próxima. A verdade é que a incerteza do que aconteceria me deixava pensativa, por isso o silêncio e os olhos fechados.

No carro, as contrações milagrosamente espaçaram ainda mais e eu consegui descansar entre elas, apaguei. 

Chegamos na maternidade e na avaliação do toque estávamos com 3cm ainda e uma notícia: o pé dela estava vindo primeiro, significando que o bumbum não estava encaixado na pelve, o que é necessário para um parto vaginal pélvico seguro. Incerteza.

Esperamos chegar a médica que é apta pra esse tipo de parto (Patrícia Frankel) e aproveitamos pra nos dar mais 1h ou 2h pra ver se ela encaixaria, as contrações seguiam e eu cada minuto mais cansada e tentando lembrar que ela estava chegando.

Quando a Patrícia chegou (ela voltou de viagem a tempo!), nova avaliação e estávamos com cerca de 5cm de dilatação, mas dessa vez o pé dela estava de fato saindo pelo colo. Não teria como esperar mais. Certeza, teríamos que ir para uma cesária de emergência e bem indicada. Ouvi a notícia quase que de olhos fechados, eu não tava muito querendo ficar com eles abertos olhando o ambiente. Sentia muita necessidade de focar os pensamentos e viver cada momentinho. Nesse momento já estávamos no quarto e eu recebendo o antibiótico intravenoso.

Me preocupei se a fotógrafa chegaria, mas a Carol nossa doula já estava cuidando de tudo.

Parece que em minutos a equipe toda de aprontou e tudo se deu muito rápido, a anestesista logo veio conversar comigo pra explicar o procedimento, eu definitivamente não sabia o que esperar. 

O caminho até o centro cirúrgico foi frio e estranho. Sentia contrações e frio, estava coberta por um edredom verde. As paredes eram frias, Iury estava comigo enquanto todos da equipe se trocavam. Eu fechava os olhos e pensava que o ponto positivo é que eu pararia de sentir as dores das contrações em breve. É estranho estar passiva sendo conduzida pro encontro com a minha filha, mas confiei mesmo com medo: ela estava vindo, tinha que ser desse jeito.

Iury trocou de roupa logo e a equipe toda estava na sala, ele ficou do meu lado todo tempo e ganhei alguns beijinhos e carinhos enquanto fechava e abria os olhos nesse intervalo. A fotógrafa chegou bem quando iniciavam os procedimentos em mim.

Pra quem não sabe como é uma cesária humanizada, embora estivessem com um pouco de pressa, se preocuparam em me explicar o que aconteceria em cada etapa, minha playlist tocava e meu marido fez uma oração no meu ouvido. A enfermeira Mariana segurava uma mão minha e a doula a outra, meu marido ficava atrás próximo a minha cabeça se mostrando presente por ali. Eu não falei muito, mas fiquei de olhos abertos. Era tudo muito rápido.

Falei que a sensação da anestesia era esquisita, um formigamento, um frio, uma sensação ruim. Não gostei não, me sentir anestesiada me deixava me sentindo esquisita, aquela passividade angustiante. 

Em minutos me avisaram que ela estava prestes a nascer, era muito rápido. Vi a equipe com as mãos no campo para abaixá-lo e eu ver ela saindo, mas algo aconteceu e esse processo demorou mais que o esperado. Ouço alguma conversa sobre algo estar difícil, mais alguns segundos ou minutos (na minha mente foram horas), ouvi dizerem que não daria pra esperar pra cortar o cordão, entendi que ela tinha saído e tinha ido direto pra pediatra fazer algo. Não ouvi choro, coração gelado e ouço a voz da enfermeira no meu ouvido dizendo “tá tudo bem, tá bom? Ela logo vem pra cá, tá tudo bem”. Ouço tudo isso com o fundo musical “hallelujah! All I have is Christ (aleluia, tudo que eu tenho é Cristo)” tocando repetidamente ao fundo (acho que Iury ficou repetindo e só lembro dessa música da nossa playlist repetindo e repetindo).

Uma eternidade depois (talvez alguns segundos), ouço o choro, as lágrimas ensaiam sair enquanto o gelo do meu coração é substituído por uma paz. Ela logo veio pros meus braços e a primeira coisa que disse “você é tão perfeita, minha filha, te amo”, ficamos 1h juntas, ela aprendendo a mamar, eu tentando respirar e toda sensação estranha da anestesia eu esquecia. Meus braços tremiam e eu ficava repetindo pra Iury me ajudar a não deixá-la cair. 

A equipe toda veio aos poucos conversar, se despedir e falar palavras de afeto. Elas foram todas incríveis no cuidado em fazer desse momento especial e humano.


O parto não se desenrolou com o desfecho esperado quando a gente lê um relato de parto humanizado, aliás não foi o desfecho que eu desejava ou planejava, mas estou convicta que foi o que Deus quis e isso me traz paz.


Dia 26/12 as 18h23 eu renasci mãe, nossa família cresceu e Cecília chegou. 


Obstetras: Aline Portelinha, Patrícia Frankel

Enfermeira: Mariana Zukoff

Anestesista: Bárbara e Pediatra: Ana Lúcia Vivas

Fotografa: Anna Lira 

Doula: Carol Koplin (esteve comigo por pelo menos 12h até chegarmos novamente no quarto, ela foi essencial pra trazer segurança e calma pro processo)

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