quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Letter for my worst love.

Venho por meio desta, entregar-lhe minhas palavras e meu tempo com o único intuito de mostrar o que nunca pude, e alerto-te que esta será a última vez que o faço. Última vez que lhe escrevo. Quem sabe a última vez que permito afundar-me neste passado. E se Deus for generoso com as migalhas do meu coração, a última vez que mergulharei nesses sentimentos. As primeiras epístolas que a ti foram endereçadas jamais puderam chegar ao caminho dos olhos teus e não estou certa se essa foi a melhor das minhas escolhas. Porém, já me perdoei de tantas escolhas erradas porque esta seria a que me condenaria? 
Estou certa que essas palavras, como muitas outras, também não irão chegar a ti e isso não me aflige, não me perturba. Por muito tempo acreditei que eu tivera sido a errante de nossa conturbada história de "amor" - como me dói ligar essa palavra a você -, por muito tempo senti-me culpada e humilhada por ter estragado o que me parecia tão bom. Por muito tempo entreguei-lhe todos os pedaços do meu coração a ti, estive de joelhos tentando juntar tudo o que me restava de você. Olhei pra você com os olhos mais gentis, mais amáveis, mais ternos. Desejei um sorriso teu tanto quanto desejava que meus pés andassem. Me abracei a memórias tuas com todos os músculos das minhas pernas, braços e olhos. Com todos os destroços de coração. Por muitas vezes eu acreditei que pudesse voltar, pudesse olhar pra mim com aqueles olhos novamente. 
Enquanto isto fazia, eu ouvi cada causo seu, cada história sua, cada risada sua sem me importar de que você estivesse falando de outras mulheres, falando de outros sorrisos. Só o que me importava era o prazer de ouvir sua voz, de saber que confiava a mim os seus segredos. Me acorrentava a um sentimento imundo e tolo de saudade, deixava que ele tomasse conta do meu coração e acabasse com o resto da vida que ele tinha. Permitia que ele destruisse as minhas noites, fuzilasse a minha mente. O meu grito de dor só cessava quando ouvia a sua voz chamar por meu nome, quando sentia seu abraço e o seu beijo na testa. E a sensação de felicidade me comia, me tomava. Quando tudo isso acabava, era o fim de toda aquela falsa felicidade. Eu voltava a contorcer-me em mim mesma e os meus poros voltavam a suplicar para que você voltasse. Tudo isso ninguém via, ninguém ouvia os meus olhos gritarem o seu nome. Eu menti. Eu fingi. Os meus dias foram escuros e minhas noites foram claras. Eu pertencia somente a saudade durante a noite. Os meus dias andavam de camelo. E foi assim por minutos, por dias, por meses. Eu guardei cada segredo que me contou, e os guardo até hoje. Quando te ouvia dizer sobre as suas garotas, as suas futilidades, as suas encrencas e os seus erros era como um híbrido de felicidade e tristeza. Felicidade por contar comigo e tristeza por ver como você caía. Porém, quando já não estávamos mais juntos, quando você não estava mais lá, a tristeza me corroía. Porque sem a sua voz pra acalmar o meu coração, tudo o que eu pensava era que não era de mim que você falava.
No meio de tantos segredos, um dia um deles me sugou, me desestabilizou. Você havia ido longe demais, você estava prestes a acabar com a sua vida e a sua voz já não era capaz de me acalmar. Eu desmoronei. Eu me acorrentei ao chão para que não pudesse ir mais longe. Eu não podia ouvir isso e sorrir como antes fazia. Eu tinha que acabar com isso. Eu não podia colaborar para a sua queda. Então, foi nesse momento que tudo ficou claro. Não foi eu, foi você. A culpa não era toda minha de nada. A culpa era sua. Você me fez mal tantas vezes e tudo o que eu fiz foi procurar algo para acalmar a minha dor. Eu me prendi a você. E você não se importava. Eu fiz o que eu podia fazer, eu tentei ao máximo não te perder, mas, eu já tinha te perdido. Você ignorou, aliás, não tinha mais nada que você pudesse fazer, já que não me amava mais. Eu vi. Você não me amava, eu me enganei. Eu sempre soube, mas, pensei que pudesse restar em você alguma migalha "do que a gente viveu".
Eu vi que não vivemos nada, eu vivi. Eu vivi e você não. Estava tudo errado. Não existia nós fazia tempos, o que era na verdade era você e você em mim. Você precisou de mim e eu estava. Você não precisou de mim e eu estava. Eu precisei de você e você estava longe. Eu só precisei de você e era só você que não estava. Que injusto. Então, dessa vez eu não estive. Eu conheço o seu sorriso, conheço o seu olhar. E eles sempre me disseram que não me amava. Eu nunca acreditei neles. Até que ficou claro demais. Em resumo: eu te amei. Eu me iludi. Acreditei que tudo tinha sido bom e que fosse digno de se lembrar, mas, nada estava bom. Você não foi o melhor, foi o pior. Você tirou de mim o que de melhor eu tinha. A minha confiança, a minha coragem de arriscar. Você não foi bom pra mim. Eu me enganei. Desde o início eu me enganei. Eu tive medo de perder, mas, eu nunca te tive.
Agora pode parecer contraditório, mas, peço-te que não vá embora, não permita que eu sinta falta de sua presença. Fique, mas, arranque de mim as suas migalhas. Leve o teu vulto que me perturba. Eu já não preciso de você, mas, desejo que esteja por perto. Gosto muito de tudo em você, mas, já não desejo pra mim. Quero seu ombro, não mais a sua boca. Eu não quero levar comigo os restos seus. Peço que os carregue pra longe, eu já os lancei ao mar, mas, eles insistem em voltar. Ordene para que eles estacionem em uma ilha deserta, não permita que ninguém mais os toque, não permita que invadam a minha memória. Me libertei de ti, só resta libertar-me das lembranças. Aí estarei pronta. Estarei curada. Sem feridas e sem memória. Se é isso que desejas, o faça. É esse meu último pedido, meu último grito. Último.

Adeus.


"Oh, pedaço de mim. Oh, metade amputada de mim, leva o que há de ti que a saudade dói latejada é assim como uma fisgada no membro que já perdi." 

3 comentários:

  1. Vai ser o último? Então que haja uma bela despedida.
    Eu te amo, e nem preciso dizer que é um dos seus textos mais bonitos que eu já li né ? s2 *-*

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  2. Antes de tudo, sim, eu leio seus textos.E todos os outros são, digamos, bem a sua cara(eu te imagino dizendo aquilo tudo), já esse é completamente diferente do resto.Eu comento novamente quando tiver uma hipótese.

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  3. Espero que seja o último, né Jéssica?

    Ygor, que surpresa. Hm, também não tenho o que te responder, sei que ficou bem diferente e meio que era isso que eu queria. É pra ser como carta e mais formal pra que tente ficar mais frio, mas, o do frio eu não consegui. Um dia te explico o porquê dele direitinho.

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